amanhã é dia dos namorados em todo o lado menos no brasil, porque por esta altura já havia o carnaval e acharam que não combinava. chutaram a data para junho, mês em que grande parte dos outros países comemoram o dia da criança mas no brasil é só em outubro; o dia da mãe é em maio, mas o do pai em agosto.
quando era criança passava algum tempo a ponderar qual seria a melhor data para celebrar aniversário, tendo em conta que além dessa data receberia presentes na páscoa, dia da criança e natal, para além do material escolar novo no regresso às aulas. aparentemente, o brasil também dedicou algum tempo a isso e criou o que é, provavelmente, o calendário comercial melhor planeado do mundo.
muitos brasileiros com quem falei tem uma característica curiosa em comum: acham que o povo brasileiro é o menos civilizado e menos culto do mundo, se considerarmos como mundo apenas o primeiro mundo. lamentam sempre que este país não seja mais como a europa ou os estados unidos. o que, pensando bem, nem foge muito do discurso típico português que lamenta não sermos mais norte-europeus.
de qualquer forma, lembrei-me disso hoje, ao tentar entrar na exposição
impressionismo: paris e a modernidade – obras-primas do museu d’orsay, que hoje estreava no centro cultural do banco do brasil de são paulo às 15h. a entrada era gratuita, é certo, mas às 15h30 já a fila se estendia por centenas de metros e se falava numa espera de duas horas.
é grátis, bem sei, as pessoas adoram coisas grátis. mas o melhor eram mesmo os comentários, que ouvi de vários grupos de pessoas à medida que o avançar dos metros da fila me desencorajava: "até parece que aqui no brasil há tanta gente a gostar de arte".
é incrível aterrar no aeroporto de congonhas, em são paulo, durante a noite e ir conhecendo aos poucos a topografia da cidade, desenhada pelas luzes dos arranha-céus.
talvez já te tenha chegado aos ouvidos, mas não mais te escrevo a partir de casa. saí pouco depois de ti, porque não te consegui varrer nem aspirar, de nada valeu arejar nem desinfectar. sempre pregada ao chão, às paredes, aos móveis, não descolas. nunca descolavas.
acho que até neste papel te sinto arrastar-me os "érres", agora o problema é a minha caligrafia caligrafia? e tu sabes como sempre detestei os teus "grr", o teu ranger de dentes, não suporto. e só não rasgo este papel para não te ouvir ganhar, rrrrrrás!
um dia deixo de escrever sem érres. um dia deixo de escrever para ti.
há pessoas que escrevem tão bem, que o dinheiro que pagamos para as ler parece pouco. e apesar de serem cada vez menos - ah, no meu tempo é que era bom! -, ainda nos vão sobrando palavras como as da alexandra lucas coelho que, como sempre, tão bem e tão perfeitas, nos explica hoje para onde foi a nossa poesia.
os the national apresentaram na terça-feira o video para uma versão alternativa da terrible love. é um dos melhores videos dos últimos tempos e, só porque depois de ver este video soube que eles voltavam cá em maio, partilho-o convosco que bem merecem tudo o que de melhor se faz por esse mundo fora.
avisam-se os mais distraídos que anda por aí uma música dos senhores the national. chama-se you're a kindness. e sim, eu sei, how kind of me por lembrar-vos. de nada, amiguinhos, ora essa.
o bill callahan, na too many birds do sometimes i wish we were an eagle que editou no ano passado, começa por cantar que já são demais, que são pássaros a mais numa só árvore. e ainda assim, o céu continua coberto de pássaros pretos ansiosos por pousar nela; e cabe mais um e outro, e um último e só mais outro. mas o último dos pássaros, sem lugar para pousar e estar, desiste e dá meia volta para tentar regressar ao sítio onde tinha descansado pela última vez.
e é aqui que ouvimos um dos mais belos momentos musicais e literários do ano passado: o pássaro preto, exausto, corre em voo à procura do lugar que o cansaço vai desfazendo na memória. não foi aqui, pássaro, que descansaste pela última vez. voas a noite toda para dormir na pedra, dormes na pedra para voltar à árvore com pássaros demais.
se, se pudesses, se pudesses parar, se pudesses parar o, se pudesses parar o bater, se pudesses parar o bater do, se pudesses parar o bater do teu, se pudesses parar o bater do teu coração, se pudesses parar o bater do teu coração por, se pudesses parar o bater do teu coração por um, se pudesses parar o bater do teu coração por um bater, se pudesses parar o bater do teu coração por um bater do, se pudesses parar o bater do teu coração por um bater do coração.
leio as cartas inéditas de um poeta não por acaso mas por natural afinidade. vejo que sentimentos esbatidos na cronologia são outros tantos traços exaltados. que me tocam as próprias palavras na boca. porque é a boca que dispensa a graça de deixar escritas palavras inauditas e o dom de receber as mais surdas.
fiama hasse pais brandão (15 de agosto de 1938 - 19 de janeiro 2007)
Bem sei que quase ninguém liga às cadeiras de Ética e Deontologia dos cursos de jornalismo, mas não fazia mal a ninguém se as notícias passassem a ser acompanhadas por autocolantes como estes. Era, pelo menos, demonstração de honestidade intelectual e prova de que os jornais não tomam os leitores por parvos.
Entrei hoje, quase por acaso, na exposição Arquite(x)turas em exibição no espaço BES Arte & Finança, uma exposição sobre a qual já tinha lido vários elogios, julgo que no ipsilon. Pois bem, adorei tanto o espaço como a exposição que, apesar de pequena, está muito bem organizada e arrumada. Fica aqui uma das fotos em exposição, uma das quatro do Lee Friedlander. E já agora, aconselho os meus restantes favoritos: Abelardo Morell e as cidades de pernas para o ar em papel de parede; Nuno Cera e as cidades pela janela; e Stan Douglas, que não me lembro bem o que fotografava, mas se anotei o nome é porque vale a pena. É ir, malta, é ir.
a jo está a fazer serviço voluntário europeu em bratislava, eslováquia, e há uns tempos escreveu sobre este documentário no blogue que ela criou para documentar estes meses de sve.
o absolut warhola é um documentário que retrata andy warhol pelos olhos dos familiares eslovacos - os pais eram eslovacos emigrantes nos eua - que sabem pouco, mas mesmo muito pouco sobre ele porque, na verdade, nunca o viram.
o documentário torna-se então numa quasi-comédia e gira entre um primo que diz que nunca soube muito bem se ele era pintor de quadros ou de paredes, de um outro que negava a pés juntos que andy pudesse ser homossexual porque nunca houve disso na terra, de uma prima que gostava muito dos sapatos que ele mandava mas que já não tinha nenhum par porque não davam muito jeito para calçar ou pelo museu que tem infiltrações e, por isso, obriga guardar os quadros na cave.
para ver o documentário e acompanhar o blogue da jo, que é bem giro e tem fotos fixes; para viajar sem levantar o rabo da cadeira.
para a malta que anda distraída, como eu andava, aqui fica a dica: o jens tem uma nova música e está a enviá-la gratuitamente por mail. para a receberem basta seguir este link para o blogue da secretly canadian, clicar em "download", escrever o vosso mail e clicar em "submit". e a música é bem gira. chama-se "the end of the world is bigger than love" e nem sei por que é que ainda estão a ler este post; é ir já lá!
o levante unión deportiva é um histórico clube valenciano; é, aliás, mais antigo que o mais famoso valencia cf. no ano em que estive em valência, o levante jogava a primeira época, em muitos anos, de regresso à primeira liga. por isso, por ser ultra de clubes não-grandes, e porque o estádio era perto de minha casa, adoptei-o como meu clube do coração em espanha.
no estádi ciutat de valència vi um dos melhores jogos da minha vida, um derby entre levante e valência que terminou com a vitória dos da casa por 4-2. três expulsões, dois penalties e a vitória dos da casa. festa como poucas a dos levantinistas e eu com orgulho por me sentir também da casa.
este ano, que marca novo regresso à liga principal, o levante lançou uma forte campanha publicitária para venda de lugares anuais. uma campanha exemplar a todos os níveis, especialmente para os clubes não-grandes. porque às vezes parece que o planeamento publicitário é feito por adeptos de outros clubes, a mensagem acaba por não passar para os adeptos do clube.
esta, por outro lado, é pensada e desenhada por alguém que sabe o que é isso de não torcer por um clube grande, de ser adepto das vitórias, de ir buscar o cachecol à gaveta quando o clube ganha títulos. nós, os adeptos de clubes não-grandes, "levamos a vida de outra maneira". e temos orgulho disso.
o tour ainda não acabou, mas o final da etapa de hoje com a subida ao tourmalet era a última grande oportunidade de schleck recuperar a amarela e conquistar margem suficiente para gerir no contra-relógio, especialidade de contador e calcanhar de aquiles de andy. maldita corrente, de facto, que os oito segundos de atraso de hoje, poderiam ser trinta e um de vantagem. aguardemos pelo contra-relógio, mas a subida de hoje deixou a certeza: temos tours para os próximos anos.
Desde o High Violet dos The National que ainda não tinha ouvido nenhum álbum novo em loop. Aconteceu agora, com o novo da pareja Isobel Campbell e Mark Lanegan. E fogo, que música bonita, a que abre o novo álbum. Ora ouçam lá:
Isobel Campbell and Mark Lanegan - We Die and See Beauty Reign
O Miguel aconselhou-me o documentário War Photographer, sobre o fotógrafo de guerra Jim Nachtwey. Disse-me que talvez me interessasse e, agora que o vi, tenho a certeza que foi um conselho bastante acertado.
Lembro-me de ser miúdo e, impressionado pela cobertura da Guerra do Golfo, imaginar-me repórter de guerra. Recordei isso nas palavras de Christiane Amanpour e Jim Nachtwey: a vontade de mostrar a guerra tal como ela é, sempre diferente do que nos contam sobre ela.
E bem, aproveito a sugestão do Miguel e reencaminho para todos vós que possam ter interesse. O documentário é muito bom e trata não só a guerra e a pobreza em vários cantos do globo, como serve também como interessante aula de fotografia.
Já agora, o site do senhor Jim Nachtwey, onde estão grande parte das fotografias que aparecem no documentário: a consultar aqui.
O Público noticia hoje um relatório Experian Hitwise que afirma uma queda de 58% nas visitas ao site do The Times desde que este começou a cobrar o acesso aos conteúdos. E isto em apenas um mês.
A estratégia despertou interesse de orgãos de comunicação de todo o mundo, mas o resultado é contrário às expectativas dos que esperavam que esta seria uma boa forma de financiamento dos jornais para compensar as quedas nas receitas provenientes da publicidade e das vendas das edições impressas.
Entretanto, a web semântica, e apesar de o conceito ter surgido já em 2001, parece tardar a impôr-se à web 2.0. Isto porque, apesar de já terem sido várias vezes notícia estudos que apontam como mais rentável a publicidade direccionada e respeitadora do utilizador do que a publicidade intrusiva e de pop-up, sites como o do próprio Público, continuam a apostar na segunda; na página desta notícia, por exemplo um anúncio a um banco expande-se e cobre o texto.
Finalmente, e ao contrário do que parece ser ideia generalizada, os utilizadores da internet não pretendem que tudo seja gratuito, antes que o que pagam tenha qualidade superior ao que se encontra de forma gratuita e isso não acontece frequentemente.
Aliás, a tendência é a contrária: os jornais estão cada vez mais iguais, mais fracos e menos interessantes e a compra dos jornais em edição papel vai sendo cada vez mais militante e menos por convicção.
Andy Schleck pode ter perdido hoje a oportunidade de vencer o Tour de France pela primeira vez. Não por culpa própria, não porque os adversários foram melhores, mas por uma falha mecânica na bicicleta e por uma completa falta de carácter dos principais adversários.
Depois de um ataque que deixou os adversários directos colados ao chão, Andy Schleck ganhou espaço precioso e, mesmo com o peso de Vinokourov na sua roda, poderia ter ganho alguns segundos importantes, especialmente a Contador.
O problema foi que, logo a seguir ao ataque, a corrente da bicicleta saltou e Andy Schleck teve de parar e trocar de bicicleta. Nos entretantos, Contador, Sanchez e Menchov (segundo, terceiro e quarto da geral) ultrapassaram o camisola amarela e ganharam uma vantagem de trinta e nove segundos no final da etapa, o suficiente para Contador roubar a amarela.
E o "roubar" que escrevo não é nada inocente, é sim um lamento pelo facto de o Tour que estava a ser um dos mais emocionantes dos últimos anos seja decidido não pela capacidade dos ciclistas, mas por um azar e pela falta de fair play.
Uns dizem que apesar da falta de carácter Contador é um grande campeão, eu fico triste em constatar que o tempo dos que para mim são os grandes campeões do ciclismo terminou nas lutas entre Armstrong e Ulrich - o primeiro esperou pelo segundo em 2001, o segundo pelo primeiro em 2003.
há já muito tempo que queria ver este mary e max, há tanto que já nem me lembro de quando vi o trailer pela primeira vez.
o argumento é tão simples quanto a história improvável, mas o filme começa com um "baseado numa história verídica" que nos assombra ao longo do filme. de tão incrível ou trágica ou inusitada ou ou ou, aquela frase morde-nos o estômago aos bocadinhos.
mas adiante, porque não vos quero estragar o filme todo. mary and max é a história de uma miúda australiana e um adulto americano que, quase por acidente, se tornam correspondentes. ela por sofrer de insegurança crónica, ele por sofrer de síndrome de asperger, encontram um no outro o único amigo. de resto, não há muito a dizer, porque este é um daqueles filmes que secam as palavras. e, por isso mesmo, não percam mais tempo a ler isto e corram para vê-lo.
já agora, duas das minhas falas preferidas:
"Not much has happened since I last wrote except for my manslaughter charges, lotto win and Ivy's death."
"I have also invented some new words. "Confuzzled", which is being confused and puzzled at the same time, "snirt", which is a cross between snow and dirt, and "smushables", which are squashed groceries you find at the bottom of the bag. I have sent a letter to the Oxford Dictionary people asking them to include my words but I have not heard back. "
O Forgotten Bookmarks é um blogue de um alfarrabista que colecciona os marcadores de livros mais improváveis ou originais; sejam fotografias como esta, postais, receitas ou cartas manuscritas e dactilografadas - até notas de $100!
Mais do que a curiosidade, a importância e o interesse que estes marcadores inusitados podem ter num trabalho de investigação em memória social.
E já agora, dentro do género, deixo-vos a indicação de um outro blogue, também bastante interessante, o Postais Ilustrados; este, mantido por cientistas sociais da Universidade do Minho.
descobri há pouco que a st. vincent fez um cover da mistaken for strangers, a minha música preferida dos the national. a qualidade não é a melhor, até porque foi gravada ao vivo, mas como eu gostei muito decidi partilhar convosco.
e vá, como sou vosso amigo, até vos mostro também o soundcheck de um concerto em lyon em que ela canta com ele; st. vincent e matt berninger com qualidade de som ranhosa, mas ainda assim toneladas de corações e pulinhos indie.
já agora, morram todos os que vão ver the national no super bock super rock, morram! pim!
st. vincent - mistaken for strangers (live at allen room, nova iorque)
st. vincent e matt berninger - mistaken for strangers (soundcheck de um concerto em lyon)
Depois da medalha de prata em Atenas, uma vitória numa etapa do Tour. Sérgio Paulinho é o primeiro ciclista português a vencer uma etapa do Tour a France em mais de vinte anos. Parabéns, claro!
a mbari disponibilizou, para download gratuito, o novo do b fachada e eu, que às vezes me sinto um bocado só no não gostar, saquei-o e ouvi-o em cinco minutos.
mas anda tudo bêbedo ou quê? eu, que só estive exposto ao álbum por cinco minutos fiquei logo com uma dor de cabeça do caraças. aquilo está tão mal gravadinho que, ainda que a música prestasse para alguma coisa, não dava para o perceber.
desculpem lá, mas isto de disponibilizar álbuns é muito bonito e até agradeço. agora neste caso trata-se de verdadeira irresponsabilidade social. quero ver quem é que oferece as aspirinas, agora.
andy schleck acaba de vencer a primeira etapa a doer do tour, depois de uma fuga a menos de um quilómetro da meta, e alberto contador não teve pernas para segui-lo. é continuar assim, andy, este é o teu ano!
anda toda a gente eufórica com os poderes adivinhatórios do polvo alemão paul. a tal ponto que a holanda, antes favorita das casas de apostas para a vitória final, deixou de o ser após a previsão do paul, que diz que espanha é que será a campeã. isto tudo porque paul terá adivinhado todos os jogos da alemanha, incluindo as derrotas com a sérvia e espanha e a vitória de ontem.
durante o comentário do jogo de atribuição do segundo e terceiro lugar, antónio tadeia (conhecido pelo seu prolífico trabalho na área do comportamento animal e, menos um bocado, pelo trabalho como comentador de futebol), afirmou que a explicação para o poder adivinhatório de paul estava no facto de ele preferir as bandeiras com riscas horizontais.
é uma explicação plausível. de facto, o paul escolheu sempre equipas com bandeiras às riscas horizontais. antónio tadeia esqueceu-se, porém, de explicar a razão que levou paul a não escolher a alemanha nos jogos contra a sérvia e espanha. certo, são duas equipas com bandeiras horizontais, mas qual foi o critério do paul nesse caso? e se é possível explicar isso, porque razão escolheu paul a alemanha em detrimento do gana, da argentina e do uruguai - todos eles com bandeiras com riscas horizontais.
é o comentarismo especializado no encher de chouriços que temos. podia ser pior.
há dias em que não apetece escolher música porque temos a sensação de que, apesar de termos uma montanha dela à disposição, acabamos por escolher sempre as mesmas coisas. atente à prepotência que é generalização de uma coisa que me acontece frequentemente e siga como se não se tivesse incomodado.
pois bem, num verão quente e à falta de um exame - para fazer amanhã -, os dias parecem o derreter do tempo pintado pelo dalí. e aqui, entre o não saber - nem querer - que fazer e o que ouvir, o gunther disse-me que vai casar-se no próximo ano. pelo egoísmo que já me é habitual, as boas notícias, depois dos parabéns, soaram a janela de oportunidade.
lembrei-me da rádio que ouvimos no carro dele quando fui à bélgica, a studio brussel, e tenho estado a ouvi-la nas últimas horas. há algo de reconfortante no não entender e, entre alguma boa música, uma salganhada de palavras em flamengo.
o ciclismo tem perdido o interesse nos últimos anos, seja pelos sucessivos escândalos de doping, seja pelo aborrecimento em que o tour se tornou nos últimos anos; os dois factores cruzam-se e entrecruzam-se todos os anos e o tour, que continua a ser um dos maiores espectáculos desportivos mundiais, tem visto a sua popularidade cair em flecha. o do ano passado, então, chegou a aborrecer de morte e o que o salvou nem foi o desporto, mas as fofoquices e intrigas à volta da liderança partilhada da astana entre armstrong e contador.
porque o traçado do ano passado foi bastante criticado por prever poucos pontos de dificuldade extrema - e, consequentemente, de discussão pela geral -, a organização decidiu incluir na primeira semana, que é tradicionalmente reservada a etapas planas e de discussão ao sprint, alguns troços de pavé, característicos das clássicas de primavera. o pavé é similar ao nosso paralelo, mas existem diferentes tipos de pavé e estão, na maior parte das vezes, em muito mau estado. já se sabe, portanto, que com bicicletas de estrada a probabilidade de joelhos, cotovelos, e até caras, em sangue aumenta exponencialmente.
resultado: quedas e mais quedas; a maior parte do pelotão corre já, pelo menos um bocadinho, esmurrado; diferenças de tempo consideráveis entre os candidatos à vitória na geral; desistência de vários corredores, entre os quais um dos favoritos (embora menos favorito que o irmão) frank shleck. tudo isto em três dias de prova, apenas, tendo o primeiro sido um prólogo curto.
por tudo isso, era já expectável que aparecessem críticas de todo o lado: "porque este traçado é uma vergonha", "porque com as quedas os ciclistas já não vão correr como correriam", "porque põe em causa a integridade física dos ciclistas", "porque o pavé é mais btt que ciclismo de estrada"; admito que inventei a maior parte destas citações, mas o importante está no aparecimento de críticas, provavelmente a maior parte delas produzidas pelos que também no ano passado criticavam um traçado completamente diferente do deste ano.
não há traçados ideais e nem são eles os culpados pelo aborrecimento que o ciclismo no geral e o tour em particular mergulharam. são, isso sim, o doping e o que se faz para ludibriar os testes, as equipas multimilionárias e as lutas de egos e a prepotência e o tempo que a uci perde com questões menores.
lamentem-se as quedas e as desistências, sim, mas este ano o tour começa com espectáculo e disputa pela geral desde os primeiros dias. e se não surgirem casos de doping relevantes na edição deste ano, talvez se fale em melhor tour de sempre no final. se não for esse o caso, é só mais um prego no caixão da modalidade.
O Público publicou hoje uma entrevista muito interessante com Don Tapscott, autor de vários trabalhos na área da tecnologia, internet e redes sociais, que é obrigatório ler. Deixo-vos alguns excertos para aguçar o apetite:
"É a geração mais esperta de sempre, é globalizada, tem ferramentas fabulosas. Se não tiver como ganhar a vida, vai começar a questionar o funcionamento da sociedade"
"Estes jovens estão a crescer de forma interactiva, habituados a colaborar e a serem activos"
"O tempo que os jovens passam online não é roubado ao tempo que passam com os amigos, ou em que estão a fazer os trabalhos de casa ou a trabalhar no emprego. É roubado, sobretudo, à televisão. É isso que os dados mostram"
"A minha geração não entende a cultura de colaboração, não entende as novas ferramentas e não entende a nova geração. Os blogues, redes sociais, wikis são o novo sistema operativo das empresas"
se é o morder dos lábios se o ousar dos teus olhos se o semi-sorriso que te nasce do lado direito da boca se o balançar do teu corpo antes de roubar-me um beijo se o não saber se é slow motion ou fast forward o tempo que tardas até aos meus braços se a forma como enrolas o cabelo quando estás aborrecida ou se por descobrires toda a nuca e pescoço quando o fazes se a cor da tua pele, dos teus cabelos ou dos teus olhos se a tua cabeça no meu peito se o teu soprar leve no meu rosto se o teu riso ou a tua gargalhada. não sei, mas gosto.
descobri agora, na página de fãs dos bracarenses um zero amarelo, que a banda esteve na praça da alegria há dez anos, quando ainda lá estava o manuel luís goucha.
foi de certeza um dia diferente na praça de alegria e, às velhinhas confundidas, goucha, perdido numa camisa quatro tamanhos acima, dizia no fim da música "é uma banda de cult...o, é uma banda de culto".
cristina caras lindas, encantada, compara o vocalista ao leonard cohen e pergunta-lhes em directo se não querem tocar também no programa dela.
para quem ainda não conhece a melhor banda bracarense de sempre, aqui está mais uma desculpa para começar a descobrir.
“E a segunda pergunta?”, insistia José Saramago. Kodama ria-se ao início e depois já estava às gargalhadas. “Que palavras utilizava para dizer que te queria…”, continuava o autor português. “Isso é importantíssimo. Posso não ser um bom escritor, mas a fazer perguntas sou um génio!”, brincou o Nobel, que assim pôs a sala inteira a rir à gargalhada.
María e Jorge usavam vários nomes, a maior parte ligados à literatura. “Um desses nomes era tirado de um conto que ele me tinha dedicado em segredo e que se chama Ulrica (in O Livro da Areia). Quis gravá-lo no túmulo em Genebra e em lugar de María Kodama e de Borges coloquei o epitáfio ‘De Ulrica a Javier Otárola’, porque eram nomes muito especiais para nós. Ulrica vinha também um pouco da Elegia de Marienbad, de Goethe, que ele me recitava em alemão. Ulrike von Levetzow era o nome da jovem amante de Goethe e quando ele fazia amor com ela contava as sílabas nas suas costas, acariciando-as com a mão. Bem, já está dito.” E María Kodama e José Saramago prosseguiram com outro assunto antes que a conversa ficasse mais complicada.
Germany (like China) views its high savings and export prowess as virtues, not vices. But John Maynard Keynes pointed out that surpluses lead to weak global aggregate demand – countries running surpluses exert a “negative externality” on their trading partners. Indeed, Keynes believed that it was surplus countries, far more than deficit countries, that posed a threat to global prosperity; he went so far as to recommend a tax on surplus countries.
Can the Euro be Saved?, Joseph E. Stiglitz (ler o texto completo aqui)
Hoje, Público e Diário de Notícias, entre outros meios de comunicação supostamente de referência, publicaram uma notícia* que dava conta da morte de um adepto do Benfica depois de ter sido espancado por adeptos do Braga. Segundo todos, a fonte da notícia era a nada suspeita e altamente imparcial Benfica TV; curiosamente, tardaram em considerar útil pedir esclarecimentos e confirmação aos Hospitais onde o jovem esteve internado e onde teria morrido.
É conhecido o carácter panfletário e pouco credível do jornalismo desportivo e, por essa razão, já não se estranha que nos jornais desportivos se faça preferencialmente promoção desportiva em detrimento da informação. O problema é quando esta propaganda contagia os jornais de referência; o que sobra ao jornalismo no assentar da poeira de dias assim?
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* A notícia original do Público tinha como título "Morreu adepto do Braga espancado em Braga no Domingo" foi entretanto reescrita e pode ser lida aqui. O título é agora "Hospitais de Braga e São João no Porto desmentem morte de adepto noticiada pela Benfica TV.
E porque se fala de economia, o Der Spiegel disponibilizou uma apresentação com alguns gráficos interessantes sobre o estado da economia europeia. Podem vê-los aqui.
No primeiro dos quadros, três gráficos: - em cima à esquerda, dívida pública da Grécia, Itália, Portugal, Irlanda e Espanha. - em baixo à esquerda, défice orçamental da Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal e Itália. - do lado direito, taxa de desemprego de Espanha, Irlanda, Grécia, Portugal e Itália.
No segundo quadro: - evolução das taxas de juro sobre a dívida a dez anos da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e Alemanha.
No terceiro quadro: - défices orçamentais na zona euro (média: 6,9%).
Para os que andam perdidos entre notícias da crise, deixo-vos um link para um texto assinado pelo Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia, e Robin Wells. O texto até é uma recensão de um livro, mas é também uma das melhores e mais simples análises da actual crise. O texto completo pode ser encontrado aqui. Deixo-vos alguns excertos, ainda assim.
"Ler Reinhart e Rogoff relembra-nos quantas vezes os economistas escolhem o caminho mais fácil - como tendem tanto a concentrar-se em tempos e locais para os quais existem dados facilmente à disposição, o que basicamente significa a história recente dos Estados Unidos e de umas poucas outras nações ricas. No que toca a crises, isso significa que agem como aquele bêbado que procura as suas chaves por baixo do poste de iluminação, não porque as deixou cair lá, mas sim porque aí existe mais luz."
"O caso da Suécia, que sofreu uma profunda crise bancária em 1991, no seguimento de uma grande bolha do mercado imobiliário. O Governo sueco tem sido muito louvado pela resposta que deu à crise: estabilizou os mercados ao garantir as dívidas bancárias e restaurou a fé no sistema ao nacionalizar temporariamente os bancos mais vulneráveis, e depois recapitalizando-os. Mas, apesar destas medidas, o desemprego na Suécia subiu dos 3 por cento até quase aos 10 por cento, só começou a descer a partir de 1995, e a recuperação foi lenta e intermitente durante mais alguns anos."
"O FMI, olhando para um limitado número de experiências (apenas estuda países desenvolvidos a partir de 1960), encontra provas de que aumentar o investimento público face a uma crise financeira diminui a quebra que se segue - mas também encontra (poucas) provas de que tais políticas podem ter efeitos contrários ao desejado, quando os governos têm já um elevado nível de dívida."
"Os actuais acontecimentos estão cada vez mais a divergir dos registos históricos, com o mundo a experimentar uma recuperação que poderá desiludir, mas que é de longe melhor do que a contínua espiral descendente entre 1929 e 1933. A diferença óbvia é política: em vez de copiarem a dura austeridade dos decisores políticos de há três gerações, que cortaram no consumo, num esforço para equilibrar orçamentos e subir as taxas de juro para preservar o padrão-ouro, os líderes de hoje têm-se mostrado receptivos a aumentar défices e injectar fundos na economia. O resultado, argumenta-se, tem sido um desastre muito menor."
"A investigação do FMI sugere que o custo a longo prazo de crises financeiras é menor quando os países respondem com fortes políticas de estímulos, o que significa que com um falhanço aí se arrisca a prejudicar não apenas este ano mas também os que se seguem."
"Agora que as múltiplas bolhas rebentaram, temos obviamente fortes razões para regressar a uma regulação muito mais estrita. Mas não é de todo claro que isso vá realmente acontecer. Para começar, a ideologia utilizada para justificar o desmantelamento da regulação tem provado ser espantosamente resistente. É agora uma declaração de fé da direita, impermeável a provas em contrário, que a crise não foi causada por excessos do sector privado, mas sim por políticos liberais que forçaram bancos a conceder empréstimos a pobres que não os mereciam."
É lugar comum não haver palavras para descrever os momentos bonitos e essa, aliás, é a melhor desculpa para não os partilharmos com aqueles que não os viveram. Em pequeno e discreto egoísmo, guardamos as memórias em câmara lenta para as degustarmos a sós logo que os outros virarem as costas.
Domingo, porém, esse momento foi partilhado por todos os que o diriam bonito. No estádio ou em casa, os poucos mas excepcionalmente bons braguistas, partilharam uma homenagem emocionada à equipa, dirigentes e adeptos que, juntos, escreveram a página mais bonita da História do Sporting Clube de Braga. E aqui, apesar de parecer, não falo de um lugar comum.
Este ano fomos verdadeiramente Enormes e, apesar de tudo o que aconteceu, partimos para a última jornada com possibilidades (ainda que remotas) de sermos campeões e, apesar de ouvirmos e lermos desde o início da época que não chegaremos a nenhum lado, continuamos a acreditar e a vencer jornada após jornada.
Se o Braga for campeão, talvez os jornais falem da força da fé. Talvez surjam títulos a ligar o clube à religião ou até a associar a vitória à visita do Papa. Talvez, talvez, ainda que todos nós saibamos que seria bem menos impressionante o milagre de o Braga ser campeão do que o milagre de ser capa em todos os jornais desportivos.
Mas nada disso interessa, sequer. Esta época não precisa das palavras dos outros. Eles não percebem o que é isso do ser Braga apesar de tudo. Não percebem como é festejar uma manutenção, as idas improváveis às competições europeias ou a conquista da Intertoto. Não percebem porque só festejam nos ombros dos clubes deles nos anos em que são grandes, enquanto nós, que agora festejamos nos ombros do nosso gigante, soubemos também levar o Enorme nos nossos ombros nos tempos em que todos os outros o viam pequeno.
Esta época é nossa e tenho muito orgulho de partilhá-la convosco.
para terminar a viagem, a escolha não podia ser outra. os sr. chinarro são a minha banda espanhola favorita. de sevilla para o mundo, a banda sonora da primavera. e porque esta é a última paragem na viagem, deixo-vos também o vídeo para nos despedirmos aos saltinhos. muchas gracias por haber venido.
o blogue tem ando meio mortiço e peço imensa desculpa. imagino o vosso sofrimento e prometo que vou tentar redimir-me.
para retomar a viagem a espanha em música, que está quase quase a terminar, deixo-vos com as boat beam. a banda de madrid é composta por três moças, uma espanhola, outra australiana e outra americana. são, para mim, o que de melhor se tem feito na música indie espanhola. espero que gostem.
depois de duas músicas calmitas, o vad decidiu convidar os juniper moon para dar um abanão a esta viagem. fomos a castilla-león resgatar o grupo sensação da indie espanhola do início do século. os juniper moon gravaram apenas um álbum, mas atingiram algo de que poucas bandas espanholas se podem gabar: passaram no mítico programa do mítico john peel na bbc radio 1.
Visitei hoje de manhã o complexo das sete fontes, aproveitando a iniciativa do grupo "Salvem As Sete Fontes". Nunca o tinha visitado e isso, admito, deixa-me agora bastante envergonhado. Como é possível, em vinte e cinco anos de bracarense, nunca ter visitado aquele espaço?
Talvez seja problema geracional, mas parece instintivo lembrar o Bom Jesus como exemplo dos espaços verdes de Braga. Sou da geração que assistiu à degradação dos espaços públicos em benefício de um crescimento pouco sustentado. Lembro-me do Parque da Ponte, do leito e margens do Rio Este e do Vale de Lamaçães, por exemplo. O verde foi fugindo pela encosta do Bom Jesus acima, mas até aí tem sido engolido pelo cimento, especialmente por culpa do crescimento da "Favela dos Ricos".
Nos últimos tempos, com a construção do Hospital Privado de Braga, tem-se falado na possibilidade de construir um ou mais viadutos de acesso ao hospital atravessando o Complexo das Sete Fontes. Esta opção urbanística não surpreenderá ninguém que esteja minimamente familiarizado com a história do urbanismo bracarense do último século, mas se o passado serve para alguma coisa é para não voltarmos a cometer os mesmos erros vezes sem conta.
O Complexo das Sete Fontes é um Parque da Cidade em potência, com a vantagem de já existir e unir de forma perfeita monumentalidade e natureza a um passo do centro da cidade. Para além disto, há ainda aqui, e segundo o Sr. Joaquim (apaixonado guia), a melhor água da cidade. Por estas razões, e apesar de parte do espaço ter sido já amputado pelo crescimento urbanístico, o complexo, classificado como Monumento Nacional, merece ser requalificado e posto, de novo, ao serviço da cidade.
Anteontem li David Byrne no ípsilon: "não basta criar apartamentos e estradas (...) a cultura é fundamental. É necessário que as cidades sejam locais onde apetece viver" e "os carros são maravilhosos, mas parece-me que dominam as cidades há demasiado tempo". E ele tem razão, por isso não podemos perder esta oportunidade.
O grupo "Salvem As Sete Fontes", que podem adicionar como amigo no facebook, lançou uma petição "Pela Salvaguarda do Complexo das Sete Fontes" e já ultrapassou as quatro mil assinaturas necessárias. Mas como assinaturas nunca são demais, se ainda não assinaram podem assinar a petição na internet ou em papel na Junta de Freguesia de São Víctor. Assinar e divulgar, claro. Juntos escreveremos, finalmente, uma página bonita na história do urbanismo bracarense.
há uma semana escrevia sobre os exageros da polícia em leiria. hoje, infelizmente, tenho de escrever sobre a estupidez de uma das claques do braga. e, ainda por cima, daquela com quem mais simpatizo.
o estádio do braga tem apenas duas bancadas, cada uma com dois andares. na bancada em que eu e os meus irmãos temos cadeira, a nascente inferior, ficam dois grupos de apoiantes. do lado esquerdo os da equipa visitante, do lado direito uma das claques do braga, os red boys.
à semelhança do que aconteceu há duas semanas frente ao guimarães, a meio do jogo vários elementos dos red boys atravessaram a bancada para ir para a zona que divide os adeptos visitantes dos adeptos do braga. a partir desse momento, apoiantes dos dois clubes trocaram provocações gratuitas e arremesso de objectos mais ou menos perigosos (garrafas de água, cadeiras e isqueiros, por exemplo).
felizmente, a polícia conseguiu resolver rapidamente a situação (e melhor do que no jogo contra o guimarães). ainda assim, há a lamentar a carga policial sobre adeptos do leixões, entre os quais se encontrava uma mulher grávida. resultado: pelo menos um homem de cabeça rachada e uma mulher levada para o hospital.
de realçar ainda o repúdio de grande parte dos sócios do braga que, ao ver que alguns elementos dos red boys se encaminhavam para o local junto da claque visitante, imediatamente se levantaram a exigir que voltassem para o sector deles. não resultou. estranho, ainda assim, que isto tenha sucedido entre os red boys e a máfia vermelha, claques que supostamente têm boas relações.
e isto não é apenas lamentável porque as claques devem servir para apoiar o clube e não para serem milícias, mas especialmente porque, ao fazê-lo, estão a pôr em perigo sócios e adeptos do braga que nada têm a ver com estas guerrinhas sem sentido. isto porque são linha da frente enquanto a polícia não chega e, mal os polícias se alinham frente a eles, atropelam os tais adeptos e sócios num corre-corre de "fujam fujam fujam" (e estou a citar).
é lamentável que isto aconteça, mas é só mais uma entre muitas razões porque sou a favor da legalização das claques. um ultra não é um criminoso, mas o anonimato, como afirma daniel seabra (antropólogo com obra publicada sobre os super dragões), abriga e alicia à prática de crimes de vários tipos. e isso não tem nada a ver com futebol.
hoje há volver na voz de estrella morente, uma música que a maior parte de vós recordará pela voz de penélope cruz no filme homónimo. estrella, galega, canta como se fosse andaluza e se já gostavam da versão da penélope, desta gostarão ainda mais. a música de hoje é sugestão da ana marques gonçalves.
hoje é a bluesy traveler que nos guia pela música espanhola e, para isso, escolheu a cantora galega luz casal, que canta al vuelo. diz que acha a música "linda, tanto a parte instrumental como a letra" e eu, sem lhe pedir autorização, publico os meus dois versos favoritos: "voy a parar en seco / bajo la media luna".
infelizmente, não a consigo colocar aqui no blogger, portanto peço-vos que façam o download aqui e a oiçam a partir do vosso computador.
pedimos desculpa pela interrupção na emissão da volta a espanha em música, mas acaba de nos chegar à redacção uma certeza: os broken social scene estão de volta e vêm com vontade de chegar a melhores do ano. voltaremos a este tema logo que for oportuno. entretanto deixamos para que ouçam a world sick, música que abre o álbum e excelente desculpa para entrar, desde já, de fim-de-semana.
depois da estreia em valenciano, o castelhano ao segundo dia. la habitación roja é um grande exemplo do bom rock que se faz em espanha e cantado em espanhol; bastante melhor, aliás, que a maior parte do rock descartável que tem jorrado de inglaterra.
bem sei que o título é música espanhola, mas espanha não se constrói apenas em castelhano, mas na soma de das muitas línguas e dialectos. por isso, por ter vivido em valència e porque o llevant está na luta pelo regresso à divisão principal, esta série começa com ovidi montllor, um "poeta-cantor" (como lhe chamavam) que fez carreira nos anos 70 e cantava em valencià.
dado o sucesso da série de música belga, garantido pelos elogios das simpáticas bluesy traveler e humildevaidade, decidi dedicar um ciclo do género a outros países.
não vão ser nem ciclos de música do mundo - mas sim uma alguns passeios pela música que se tem feito em alguns dos países espalhados pelo globo -, nem vão ser, obviamente, passeios por toda a música que se faz no país.
ainda assim, mas acho que é capaz de ser giro e, por isso, se quiserem vir, ficam desde já convidados. ah, e tragam música, também!
a primeira paragem, porque fica a caminho, será espanha.
invisíveis sombras entre nós a casa as coisas. invisíveis como a nossa visível obstinação. um pouco de luz nos faz pender para um dos lados. uma luz que não sabemos.
uma luz que invisíveis sombras lança entre nós a casa as coisas e nos faz pender para um lado um dos lados o lado que não sabemos dessa luz que nos conhece.
hoje foi dia de paris-roubaix, a mais bela clássica do ciclismo de estrada. 280km de estradas más, estradas em paralelo e muito pó. é a antítese do ciclismo contemporâneo, que corre sempre em estradas muito limpinhas e em que as montanhas são os grandes obstáculos.
o paris-roubaix é btt com bicicletas de estrada e, por isso, não é para meninos. a prová-lo está, aliás, a alta taxa de desistências que, em 2009, foi superior a 50% (isto em apenas um dia de prova).
este ano, como tem sido habitual, os grandes favoritos eram fabian cancellara (sz) e tom boonen (be). depois da vitória do primeiro em terra do segundo na semana passada (na volta à flandres), esperava-se que boonen respondesse à altura e vencesse pela terceira vez consecutiva.
o belga acreditou que a melhor forma de o fazer era responder à altura a todo e qualquer ataque e assim fez. mas, quando a 45km da meta e num momento de distracção do belga, cancellara sacudiu o grupo em que seguiam e fugiu para a vitória, boonen não teve pernas para o seguir e, no fim, seria apenas quinto, já sem força para sprintar pelo quarto lugar.
cancellara, sempre tranquilo, esperou pelo melhor momento para atacar e, mesmo com 45km por correr, cancellara correu sozinho para uma vitória tão sossegada quanto incontestável; teve até tempo para começar os festejos a 2km para o final da prova.
o suíço, especialista em contra-relógio, não tem medo de correr sozinho e, depois de uma fuga fantástica chegou a atingir três minutos de diferença para os perseguidores, altura em que abrandou o ritmo e se limitou a saborear a mais que previsível vitória (já tinha vencido em 2006).
termino com o convite para a (re)verem aqui a fuga de cancellara.
talvez todos conheçam os dEUS, mas nem todos saberão que eles são belgas. talvez alguns de vós já tenham ouvido falar neles, mas nunca os tenham ouvido. porque hoje termino a viagem pela música belga (porque apesar de ainda ficarem muitas por mostrar, isto tem de acabar algum dia e sete é um bom número para final de ciclo), deixo-vos com a minha favorita.
já se sabia que seria uma deslocação histórica: o braga distribuiu os oito mil bilhetes que tinha pedido ao leiria e foram dezenas os autocarros e centenas os carros que seguiram em caravana. à saída do velhinho primeiro de maio, alguns dos que ficavam pela cidade, despediam-se de todas as camionetas como se em todas elas fossem familiares e amigos destacados para a guerra. muitos de vós julgarão esta comparação forçada, mas tenho a certeza de que os braguistas que a lerem saberão do que falo.
a viagem foi muito tranquila, como é normal nas viagens em camionetas de excursão do clube. fala-se da época de sonho, suspira-se com a possibilidade de o braga ser campeão, sorri-se para dentro ao imaginar a música da liga dos campeões como banda sonora de noites de jogo no axa.
na paragem na mealhada, as camionetas estacionaram onde podiam. ninguém parece saber muito bem quantas eram (as claques pararam na estação de serviço anterior), mas a mealhada nunca foi, tenho a certeza, tão vermelha. famílias inteiras, velhos e novos, todos juntos, ou com o símbolo ao peito ou com o vermelho ao pescoço. pouco se gritou pelo braga, mas a festa só começaria em duas horas e meia.
à chegada a leiria, uma fila interminável de camionetas que não sabiam nem onde nem como estacionar. eram demais e, apesar de o estádio ter trinta mil lugares, vê-se bem que a cidade não está habituada a tal coisa: os leirienses passavam admirados, os polícias nitidamente desorientados. à falta de uma hora e pico para o jogo, os milhares de adeptos do braga espalharam-se à volta do estádio e pelos poucos cafés que existem nas redondezas; a meia-hora do jogo, num café a quatrocentos metros do estádio, tinha já acabado o stock de super bock, super bock mini e de finos; mais um indicador de que ninguém esperava uma onda assim.
e esta onda vermelha, que poucos conhecem porque os media costumam referir apenas a onda encarnada, ocupou toda a curva sul e ainda parte da bancada central. vale ao leiria as cadeiras coloridas que ajudavam a disfarçar o vazio das bancadas destinadas aos adeptos da casa. pouco adiantou, porque as cadeiras não fazem barulho e a única vez em que se ouviram foi no golo do leiria e, mesmo aí, foram imediatamente abafados pelos adeptos do braga.
o braga jogou mal, mas soube dar a volta ao jogo e, no dia em que meyong e renteria voltaram a jogar juntos de início, ambos fizeram um golo. e isso bastou. o espectáculo fez-se na bancada com noventa minutos de cânticos de incentivo ao braga. eram mais de cem, eram mais de mil, muitos muitos mais e a festa durou para lá dos noventa minutos. jogadores e adeptos do braga juntos num final de jogo tsunami-vermelho.
pena foi que a festa tenha sido manchada pela incompetência da polícia que não se coibiu de agredir indiscriminadamente os adeptos do braga que, apesar de serem pacíficos e estarem apenas a festejar a importante vitória, foram agredidos à bastonada e atingidos com gás pimenta. curiosamente, o mesmo não acontece às claques rivais que, quando vêm ao axa atiram cadeiras, bolas de matraquilhos e golf, cospem e atiram até torneiras (!) na direcção dos sócios bracarenses. pelos vistos, para a polícia, é mais importante impedir os festejos do que os confrontos entre rivais; daí fazer sentido o que ouvi de alguns braguistas ontem: a polícia é muitas vezes um "força de desordem".
no regresso, a satisfação com a enorme demonstração da força do clube e adeptos e, claro, com os três pontos que permitem continuar a sonhar.
prometo que a série está quase quase a chegar ao fim. não sei se depois disto comece a dedicar uma semana a um país diferente, sempre era desculpa para não deixar morrer o vad; logo se vê.
hoje é uma voz mesmo mesmo bonita: an perlié canta sorry.
depois de quatro sugestões a puxar para o róque, fica uma pequena homenagem a uma banda que se estreou em grande no ano passado com o álbum homónimo. os isbells soam a espaços a bonnie "prince" billy e bon iver e esta música foi o primeiro single do álbum.
dispensavam-se bem os falsetes do vocalista, mas os the blackbox revelation são bem mais que isso. são apenas dois, mas a música parece de uma banda de quatro ou cinco e, mais não fosse, mereciam nota positiva pelo uso da cowbell. deixo-vos a minha música preferida deles, mas convido-vos a ver também o videoclip de uma outra música por ter sido gravado no gigantesco túnel subaquático que une as duas margens de antuérpia.
hoje, para além da música, destaco também o video. os absynthe minded são uma banda de gent e o mais recente videoclip é rodado pelas ruas da cidade. a música não é má, mas o video é a estrela incontestável da dupla. quem alinha num passeio de bicicleta?
há álbuns que cansam porque as músicas parecem todas iguais, bandas que cansam porque os álbuns parecem todos iguais. daan é o contrário disso e, se cansa, é porque não pára de mudar. esta icon faz lembrar johnny cash e é a minha música preferida dele. se gostam de shuffle, talvez o álbum seja a vossa cara.
detesto viajar, especialmente sozinho. se for sozinho de comboio, camioneta ou avião, o mais provável é que alguém se sente ao meu lado e obrigue a uma intimidade silenciosa perfeitamente dispensável. o silêncio, uma das mais belas capacidade humanas desperdiçada com um perfeito desconhecido; isto, claro, torna-se especialmente desconfortável quando a companhia não tem perfeita noção espacial e desborda para o espaço dos outros.
por essa razão, procuro sempre os lugares da janela; não tanto pela paisagem, mas pela possibilidade de fugir dos vizinhos de viagem ao esborrachar-me contra a janela. o lugar da janela tem ainda a vantagem de permitir pousar os olhos em lado nenhum sem que o caminho até esse ponto se cruze com outra pessoa, facto que elimina toda e qualquer virtude que o espaço extra do lugar do corredor possa ter.
mas tudo isto para dizer que, a caminho para a bélgica, em vez das paisagens, eram as vantagens e desvantagens do teletransporte que me ocupavam o cérebro. carro, comboio, metro, avião e carro de novo. entre cada um, espera sentado, espera de pé, espera encostado a uma parede. no total, umas sete horas de suspiros de desespero: "pf!, nunca mais chego!"; não era tão melhor se o tempo que perdemos a caminho pudesse ser desperdiçado numa esplanada flamenga com uma blonde leffe?
inicio hoje uma pequena viagem pela música que faz pela terra dos dEUS.
admiral freebee foi a primeira coisa que ouvi na recente visita à bélgica e este álbum, editado já este ano, foi banda sonora do caminho entre charleroi e gent. não é a minha música preferida do álbum, mas porque não é fácil encontrar músicas do novo álbum por aí, recomendo que a ouçam e, caso gostem, saquem o álbum completo e depois comprem na internet.
24 horas depois, já de cabeça fria, alguns comentários sobre o scbraga-vsc de ontem.
a exibição do árbitro foi, de facto, bastante má e o jogo acabou por tornar-se numa anedota. ao contrário do que dizem muitos por aí, ainda assim, parece óbvio que nenhuma das equipas saiu beneficiada com a incompetência de soares dias.
o lance do "penalty-que-afinal-não-foi" é ridículo e, apesar de a decisão ter sido emendada, acabou por desconcentrar a equipa arsenalista e, especialmente, o capitão e líder da defesa, moisés.
no lance do primeiro golo do guimarães parece incrível como é que o árbitro, virado para o jogador do guimarães, não o vê dominar a bola com o braço. não compreendo também como é que, mesmo com imagens pouco esclarecedoras (segundo os media) todos digam que o toque foi com o ombro; estaria o jogador vimaranense a jogar com o ombro deslocado?
o primeiro penalty a favor do braga parece-me óbvio. bola no cotovelo do jogador vitoriano que, ao contrário do que dizem alguns, não tinha o braço em posição normal e desviou a bola da trajectória; falta dentro da área é penalty, dizem as regras.
o lance do segundo penalty pode ser visto de duas formas e ambas são penalty: se a falta começa fora da área mas se arrasta até dentro da área é penalty porque a falta marca-se sempre no local em que ela termina; se avaliarmos a falta em dois momentos (há um primeiro puxão a que renteria resiste e volta a ser puxado e derrubado já dentro da grande área), deve entender-se como lei da vantagem no primeiro momento e falta para penalty no segundo.
o lance do penalty do guimarães é falta óbvia e foi simples parvoíce do rodriguez, talvez causada pela desconcentração do aproximar do final do jogo. falta indiscutível e irresponsável, nada a apontar. engraçado apenas o facto de o rodriguez ter sido expulso por acumulação de um amarelo.
o terceiro penalty do braga sim, parece-me mais discutível, ainda que hajam imagens que sugerem que um jogador do guimarães puxa a camisola ao renteria. não seria certamente a força necessária para o derrubar, mas já vimos simulações bem mais ridículas (há quem lhes chame di magia, imagine-se!).
finalmente, falta só referir um penalty que fica por marcar a favor do braga que quase ninguém refere. de notar, ainda assim, que jorge coroado aponta-o no tribunal da arbitragem num dos três desportivos de hoje.
resumindo: jogo surreal mas que deu a vitória à equipa que mais quis vencer o jogo. o braga jogou mal, mas ganhou bem, apesar de o jogo ter sido, certamente, um dos mais estranhos da história do futebol.
na semana passada, os suede voltaram a reunir-se para três concertos. tinham terminado no outono de 2003, depois de uma passagem pelo sudoeste, e, desde aí, brett anderson só me deu desilusões; primeiro com os the tears, depois a solo, esteve sempre muito muito fraquinho e conseguiu até estragar músicas que antes de editadas pareciam das mais bonitas músicas jamais escritas; uma música, vá, a love is dead.
hoje de manhã, porém, ao ler as críticas aos concertos no nme desta semana, voltei a sentir as cócegas que os suede me provocavam na adolescência. deixo-vos alguns pedaços da crónica de luke turner na versão original e um video do concerto no royal albert hall. o resto pode ser visto aqui.
"suede were the first group to be proclaimed the best new band in britain and whacked on to the cover of a weekly music newspaper without ever released a note"
"the gang - suede were always a gang - are back"
"heroine and so young are still anthems for dreamers, pantomime horse and the asphalt world strung-out tales of drugged love in the big city"
"suede had never sounded this brutal, so determined; the best british punk, rock'n'roll, sex-pop-glam-band of the past 20 years"
"many of the diehards present proclaiming this to be the best suede gig they've ever seen"
"suede will never lead beery singalongs at glastonbury. they'll never have hubristic documentaries made about their reformation. this certainly isn't for the money. it's more personal than that because, for suede, we're all part of the gang too."
"suede were and are for misfits and lovers, obsessives and fuckers. suede were and are romantic, preposterous, glamorous, decadent, political, arrogant and brash; everything a band sould be, and so few are: just trash, you and me, the lovers on the street"
ganglord, lado b do single the youngest was the most loved, foi incluído no álbum de lados b que o morrissey lançou no ano passado, swords. é uma das músicas mais inspiradas da colectânea e teve agora direito a videoclip. hoje, enquanto o procurava pelo youtube, encontrei também um excerto de uma entrevista em que o jeff buckley se desfaz em histerismo quando lhe dizem que o mozza é capaz de aparecer por lá. por causa desta entrevista, voltei a ouvir o cover que o jeff fez da the boy with a torn in his side. e, só porque sou muito vosso amigo, deixo-vos a papinha toda feita.
morrissey - ganglord
jeff buckley sobre morrissey e the smiths
jeff buckley - the boy with a thorn on his side (the smiths cover)
do facebook, em resposta a um comentário ao que escrevi após o concerto de sexta-feira: joão martinho só vem aqui dizer que o owen pallett deu um concerto do caraças e que quem o viu em 2006 não viu nada; este sim, foi um espectáculo fenomenal. e agora tenho um heartland assinado com um coração de olhos para a lua.
era exagero próprio de um período pós-encantamento. não o vi em famalicão, mas vi-o, num concerto da mesma tour, em valência. gostei muito do concerto, também, mas quem o viu em 2006 e quem o viu agora notou que o owen pallett não é o mesmo.
no auditório pequeno de 2006 ele estava acompanhado por uma rapariga que brincava com acetatos. o concerto foi bonito, mas a grande diferença em relação aos álbuns era o facto de ele estar ali a meia dúzia de metros. de resto, muito pouca ousadia musical.
ontem não - e não sei se foi diferente dos concertos do maria matos, porque o público dizia que ele tinha sido "sóbrio e eficaz" -, ontem ele deu um grande espectáculo e mostrou que, ao contrário dos outros dois álbuns, este é um álbum que soa ainda melhor ao vivo do que em disco. para além disso, a presença do guitarrista/percussionista trouxe muito mais ao concerto do que a rapariga dos acetatos....
eu gosto das cócegas das ondas de ruído e ele ontem trabalhou-as de uma forma exemplar. alternou entre o ruído e a melodia numa sincronia fantástica com o colega de palco; notava-se um grande química entre eles, comentei com algumas pessoas ontem, e, acima de tudo, notava-se que ambos estavam a divertir-se bastante.
por essa razão, o owen não foi o rapaz ensimesmado do concerto de 2006, mas, e apesar de não falar demais, deixou toda a plateia confortável e rendida. no fim, troquei duas palavras com o percussionista e ele disse-me que antes do concerto não sabiam o que haviam de esperar, mas que se tinham divertido muito no concerto. podiam ser palavras de ocasião, mas confirmavam a ideia de quem assistiu.
eu saí de lá de barriga cheia e, no fim, ainda trouxe um cd com um coração desenhado pelo owen. eu, que até estava sem grandes expectativas em relação ao concerto por este ser o meu despreferido dos três álbuns, saí de lá com a certeza de que o heartland é a obra-prima do owen pallett. hoje via outra vez. :)
a Alexandra Silva enviou-me há pouco este link em que dá o testemunho da luta dela contra o cancro da mama. eu ainda engulo em seco, em vénia à coragem dela, e perco-me neste não saber as palavras certas. por isso, digo-vos só que leiam e ofereçam a ler. fica um beijo para ela, de quem não soube que passara por isto, e um "fogo, não te disse no concerto do jens, mas o cabelo curto fica-te mesmo bem".
em cada dia internacional da mulher surgem alguns discursos-tipo entre os que não concordam com a sua existência: há quem diga que é uma pena que a mulher só seja lembrada um dia por ano; outros que acham que este dia já não faz sentido e só acentua a discriminação; os que defendem que o dia internacional não serve para nada.
hoje celebram-se cem anos sobre a primeira vez em que o dia internacional da mulher foi comemorado e, felizmente, ao longo destes cem anos os papéis de género têm-se diluído. dizem-me que tal não aconteceu por causa do dia internacional, mas esquecem-se que o dia internacional é homenagem às mulheres que lutaram para que isto se verificasse.
ao fim ao cabo é apenas mais um dia, mais uma comemoração e, como todas, parece perder o sentido com o tempo. mas a verdade é que as mulheres, na maior parte dos casos, ainda não são tratadas da mesma forma que os homens no acesso ao emprego, não ganham o mesmo para trabalhos iguais e são as principais vítimas da violência doméstica.
talvez nos devêssemos lembrar todos os dias disto e continuar a lutar pela igualdade de género em todos os níveis sociais, mas isso, tenho a certeza, não se faz pela desvalorização do testemunho das mulheres que em finais do século dezanove e início de vinte a iniciaram.
por tudo isso, os meus parabéns às mulheres que não se conformam.
a melhor surpresa pessoal da noite foi a vitória da curta de animação logorama. era a minha favorita entre as candidatas, mas o facto de concorrer contra matter of loaf and death (wallace and gromit) parecia destiná-la ao insucesso. jogava contra ela também o facto de usar mais de três mil logotipos e marcas, especialmente por usar o ronald mcdonald como ladrão, assassino e sequestrador. se ainda não viram, aproveitem para a ver aqui.
crazy heart é um dos filmes mais aborrecidos do ano passado. tão fraquinho que não coube sequer entre os nomeados para melhor filme do ano e, nessa lista, até estão filmes mesmo mesmo fracos. ainda assim, há dois óscares que serão justamente entregues: melhor actor principal e melhor música. não compreendo é a nomeação de maggie gyllenghall para o óscar de melhor actriz secundária; mulher mais insossa e irritante de sempre, irra!
de entre os nomeados para melhor filme (desta vez são dez) há cinco que não me importava que ganhassem o óscar. ainda assim, apenas um deles merece mesmo mesmo vencer. inglourious basterds é um filme do caraças e é, entre os cinco, o único filme que é autêntica obra de arte. oops, quentin tarantino did it again: senhores que ficaram deslumbrados com o fogo-de-artifício de avatar e acham que merece o prémio, façam o favor de ver inglourious basterds com olhos de ver e depois venham discutir comigo a justiça do óscar para o avatar. e já agora, raio de injustiça o brad pitt não ter sido nomeado para melhor actor. não merecia ganhar, obviamente, mas a nomeação seria mais que justa.