já se sabia que seria uma deslocação histórica: o braga distribuiu os oito mil bilhetes que tinha pedido ao leiria e foram dezenas os autocarros e centenas os carros que seguiram em caravana. à saída do velhinho primeiro de maio, alguns dos que ficavam pela cidade, despediam-se de todas as camionetas como se em todas elas fossem familiares e amigos destacados para a guerra. muitos de vós julgarão esta comparação forçada, mas tenho a certeza de que os braguistas que a lerem saberão do que falo.
a viagem foi muito tranquila, como é normal nas viagens em camionetas de excursão do clube. fala-se da época de sonho, suspira-se com a possibilidade de o braga ser campeão, sorri-se para dentro ao imaginar a música da liga dos campeões como banda sonora de noites de jogo no axa.
na paragem na mealhada, as camionetas estacionaram onde podiam. ninguém parece saber muito bem quantas eram (as claques pararam na estação de serviço anterior), mas a mealhada nunca foi, tenho a certeza, tão vermelha. famílias inteiras, velhos e novos, todos juntos, ou com o símbolo ao peito ou com o vermelho ao pescoço. pouco se gritou pelo braga, mas a festa só começaria em duas horas e meia.
à chegada a leiria, uma fila interminável de camionetas que não sabiam nem onde nem como estacionar. eram demais e, apesar de o estádio ter trinta mil lugares, vê-se bem que a cidade não está habituada a tal coisa: os leirienses passavam admirados, os polícias nitidamente desorientados. à falta de uma hora e pico para o jogo, os milhares de adeptos do braga espalharam-se à volta do estádio e pelos poucos cafés que existem nas redondezas; a meia-hora do jogo, num café a quatrocentos metros do estádio, tinha já acabado o stock de super bock, super bock mini e de finos; mais um indicador de que ninguém esperava uma onda assim.
e esta onda vermelha, que poucos conhecem porque os media costumam referir apenas a onda encarnada, ocupou toda a curva sul e ainda parte da bancada central. vale ao leiria as cadeiras coloridas que ajudavam a disfarçar o vazio das bancadas destinadas aos adeptos da casa. pouco adiantou, porque as cadeiras não fazem barulho e a única vez em que se ouviram foi no golo do leiria e, mesmo aí, foram imediatamente abafados pelos adeptos do braga.
o braga jogou mal, mas soube dar a volta ao jogo e, no dia em que meyong e renteria voltaram a jogar juntos de início, ambos fizeram um golo. e isso bastou. o espectáculo fez-se na bancada com noventa minutos de cânticos de incentivo ao braga. eram mais de cem, eram mais de mil, muitos muitos mais e a festa durou para lá dos noventa minutos. jogadores e adeptos do braga juntos num final de jogo tsunami-vermelho.
pena foi que a festa tenha sido manchada pela incompetência da polícia que não se coibiu de agredir indiscriminadamente os adeptos do braga que, apesar de serem pacíficos e estarem apenas a festejar a importante vitória, foram agredidos à bastonada e atingidos com gás pimenta. curiosamente, o mesmo não acontece às claques rivais que, quando vêm ao axa atiram cadeiras, bolas de matraquilhos e golf, cospem e atiram até torneiras (!) na direcção dos sócios bracarenses. pelos vistos, para a polícia, é mais importante impedir os festejos do que os confrontos entre rivais; daí fazer sentido o que ouvi de alguns braguistas ontem: a polícia é muitas vezes um "força de desordem".
no regresso, a satisfação com a enorme demonstração da força do clube e adeptos e, claro, com os três pontos que permitem continuar a sonhar.
escrito por by joão martinho Email post
« Home | música belga, parte seis » //-->
Post a comment :