Esperava-te na estação, como havíamos combinado. As minhas mãos suavam leves tremores de emoção e seguravam um malmequer com as pétalas bem contadas.
Entrei no comboio já ele andava, como se tentasse fugir às nossas juras falsas de amor. Com a porta da última carruagem aberta, segurava-me para ver se tu chegavas. Mas tu não chegaste e eu desisti. Sentei-me no teu lugar, junto à janela, e ocupei o banco do lado, o meu, com os jornais, cadernos e restante papelada.
Comecei a viagem com vontade de encher cada espaço em branco de cada bocado de papel que tinha - até do bilhete -, com mensagens para ti. Comecei a escrever-te uma carta de mágoas que demorou dez páginas, mas a lágrima que molhou a palavra 'saudade' - que escrevi na última linha da última página -, obrigou-me a rasgá-la.
Depois, umas estações mais à frente, entrou a Julie, que se sentou no banco em frente ao meu, de frente para mim. Sabes como é que eu sou: demorei quase duas horas para decidir o que lhe havia de dizer, e quando o fiz, disse asneira. O que vale é que ela se riu e disse que a chuva não cai do céu para morrer na cara de quem não a merece. Saímos na estação seguinte e beijámo-nos à chuva.
Passou quase um mês e eu nem me apercebi e até me esqueci que tinha coisas para ti. Espero que esta carta te encontre bem e feliz. Junto envio um recorte de dicionário que pensei que talvez te fosse útil. Se nos faltou 'espontaneidade', agradeço-te o teres reproduzido apenas mais um cliché na nossa relação. Hoje sou feliz por me teres feito infeliz. E como disse o revisor: 'Pois é, é a vida'.
escrito por by joão martinho Email post
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Lembrava-me bem deste! Mesmo bem, quase de cor! Gosto tanto. *
~Oo°~
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