o meu alter-ego é um tipo que adormece à espera das seis e sessenta e seis da manha; é um tipo ingénuo que se deixa sempre enganar pelo sono e desperta já depois das sete. e a máquina fotográfica, com muitas fotografias acidentais, não encontra nunca - mesmo em desfocado ou descentrado - os números da moda em vermelho sobre preto. é, acima de tudo, um tipo verdadeiro e puro, e é por isso que se recusa a procurar manualmente os números no despertador.
ouve, uma vez até se lembrou de programar o despertador para pouco antes da hora, mas viu que o mais perto que conseguia era um minuto antes das seis. acreditou que era um sinal - um para as seis e ficava a seis das seis e sessenta e seis - e por isso desistiu da ideia.
nunca ninguém o conheceu e ainda bem; ainda o confundiam comigo e começavam a dizer que eu sou paranóico e obstinado com coisas parvas - quer dizer, isso ainda vá que não vá, porque a verdade é para se dizer. mas bem, a verdade é outra: pessoas tem sempre alter-egos fantásticos e incríveis e o meu é ainda mais estranho que eu. e eu, que sempre tive medo que dissessem que eu sou um gajo estranho, acabei por matá-lo sem ninguém saber. não foi difícil, porque ninguém sabia que ele existia. ainda assim, é melhor não darmos muito nas vistas e falar dele como se ele ainda adormecesse à espera das seis e sessenta e seis, ok?
escrito por by joão martinho Email post
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