<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d4197132226586187837\x26blogName\x3dvad\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://voandoaderiva.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_BR\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://voandoaderiva.blogspot.com/\x26vt\x3d-2300185652809804497', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe", messageHandlersFilter: gapi.iframes.CROSS_ORIGIN_IFRAMES_FILTER, messageHandlers: { 'blogger-ping': function() {} } }); } }); </script>
+












quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

posts do antigamente #38

.90
disseram-me que ele se costumava atrasar muito e que um almoço com ele nunca acabava antes de depois da hora de jantar. disseram-me que ele gostava muito de falar e de comer, embora a sofreguidão de falar o fizesse, muitas vezes, abdicar de comer. nunca ligo muito ao que as pessoas dizem de outras pessoas porque as pessoas dizem verdades e mentiras - as pessoas só são verdadeiras quando falam de si; fingem é nas humildades e nas sobrancerias.

esforcei-me por chegar lá a horas e constatei que afinal as pessoas tinham razão quando falavam da sua falta de pontualidade; e eu que odeio esperar. para a espera, optei por um vinho barato com nome de caro, porque o dinheiro é pouco mas gosto de causar uma boa primeira impressão. claro que não foi fácil, já que ele demorou meia garrafa a chegar e eu já balanceava ao ritmo do estômago em jejum. fiquei nervoso por não conseguir controlar o meu corpo nem ter apetite para comer; ainda mais fiquei quando ele começou a falar. sempre tive problemas de concentração e não costumo demorar mais de dez minutos de conversa improfícua para começar pensar em nada. sempre que isto acontecia, entrava em pânico e tentava disfarçar toda esta ansiedade; espero que não tenha sido em vão. pedi a sobremesa sem ter tocado no primeiro prato e ele nem notou; fui à casa de banho lavar a cara com água fria e acho que ele continuou a falar.

gosto de sentir a água fria disparar-se contra a minha cara - costumo dizer-me 'acorda para a vida, pá!'. senti-me uma pessoa melhor e voltei para a mesa, onde o gelado de menta e chocolate começava a descongelar. melhor, gosto mais dos gelados quando já não estão tão gelados. gosto de chocolate e mentol e ao comer o gelado pensava que era mesmo disso que precisava: açúcar com fartura pela goela abaixo. peguei no guardanapo e rabisquei umas palavras, para ver se o corre-corre cerebral se acalmava um pouco. e resultou. o açúcar é o estimulante que melhor se dá com a minha actividade cerebral. funcionam tão bem que às vezes até dá faísca e trovão e muita chuva de coisas; o que eu costumo chamar de 'nada'.

nada é pouco menos de tudo o que eu percebi do que ele me disse. fala muito, de facto, e ainda não tinha passado dos aperitivos que até tinham muito bom aspecto, por sinal. tão bom aspecto que recuperei o meu apetite e pedi igual para mim - será que era por causa disto que as pessoas diziam que com ele o almoço engole o jantar? sorri ao pensar no 'vê se comes isso antes que fique frio, que depois não presta' que a minha mãe tantas vezes me dedicou e, aconselhado pelo empregado, pedi um entrecosto argentino - sim, como se precisasse da opinião dele para me inclinar para o entrecosto argentino!

era já de noite e eu almoçava ainda. sentia-me bem, ainda assim, porque ao fim ao cabo, ele ainda nem o tinha começado. nunca tinha conhecido ninguém com tanta vontade de falar e eu nunca tinha sentido tão pouca vontade de ouvir. senti-me uma má pessoa, mas continuei a comer - afinal era ele que pagava. senti-me outra vez uma má pessoa, afinal ele estava a pagar-me para o ouvir e eu nem isso conseguia dar-lhe - os meus ouvidos, absorvidos na orgia de sentidos que a comida me proporcionava. o restaurante é muito bom e fiquei com vontade de voltar lá em breve. ele ficou com vontade de repetir e convidou-me para almoçar com ele outra vez na semana seguinte. eu aceitei e desde aí que almoçamos juntos uma vez por semana.

aprendi a comer e a beber; especialmente beber - que descobri que é a sua grande especialidade. com o tempo, aprendi a ouvi-lo, também. meia dúzia de anos depois, morreu sozinho num hospital, depois de muitos meses sem saber que dia seria o último; sem poder desfrutar do fim. eu era a única pessoa que o visitava e um dia ele pediu-me para escrever a biografia dele, se algum dia viesse a ser famoso. nunca o foi, mas eu escrevi a biografia dele na mesma e publiquei-a. recebi muitos elogios e a crítica dizia toda que era o romance de uma vida extraordinária, apesar de eu insistir que era apenas uma biografia de alguém que gritou para ser ouvido, e foi sempre sufocado por pessoas ordinárias.

com o dinheiro que ganhei com o livro, todas as semanas vou almoçar com ele. ele continua a falar muito e eu todas as semanas o ouço melhor. a única diferença é que agora sou eu que pago.


escrito por by joão martinho Email post



Remember Me (?)



All personal information that you provide here will be governed by the Privacy Policy of Blogger.


« Home | posts do antigamente #37 » //-->





Post a comment :