a menina que devora eça no banco frio da estação
Senta-se, murmurando um olá quase imperceptível. E, como se não esperasse qualquer resposta, abre um livro de capa dura azul e começa folhear as folhas branquíssimas de idade.
Foi assim que a conheceu, apesar de nunca a ter conhecido. Ela sentou-se e enlevou-se, como quem foge do frio sem dizer que sim ou que esperar Godot afinal cansa.
Sim, o silêncio; ou não fosse quase de madrugada de um qualquer dia em que ninguém canta ou grita. Só o barulho dos comboios que seguem indiferentes; o barulho das páginas sorvidas de um só fôlego e o do bater do coração do menino que a olha, com as mãos atadas ao coração.
E ninguém sabe ou sonha, e ninguém espera nem comenta; porque ninguém ouviu jamais tamanho sussuro de magia e euforia - sempre contida -, como quem guarda um segredo como se guardasse o coração.
Se conseguisse, elogiar-lhe-ia os lábios cor de cereja e dir-lhe-ia como ficam bonitos enquanto lêem Eça para dentro. Depois, concerteza, coraria muito e fugiria, mas o coração bateria de forma muito diferente, assim como se esperasse que ela corresse atrás dele e lhe citasse Eça ao ouvido.
E não seria por falta de tempo, oportunidades ou suspiros do vento, que lhe oferecia - a cada brisa -, um leve traço de perfume da menina que lê com olhos redondos e castanhos. O comboio que esperavam não chegaria nunca, mas o bilhete rasgado que sobrou no chão, mesmo ao lado do lugar da menina que ainda hoje lê Eça, é uma palavra muda de despedida, mas é também uma carta de amor, daquelas que não caem ao chão; daquelas que levitam para sempre a alguns milímetros, como os pés do menino apaixonado, enquanto se despedia sem ela perceber.
Ela nunca a leu e o vento acabou por a fazer voar. Mas foi apenas mais um sonho desfeito, e outro menino que ficou sem par.
Senta-se, murmurando um olá quase imperceptível. E, como se não esperasse qualquer resposta, abre um livro de capa dura azul e começa folhear as folhas branquíssimas de idade.
Foi assim que a conheceu, apesar de nunca a ter conhecido. Ela sentou-se e enlevou-se, como quem foge do frio sem dizer que sim ou que esperar Godot afinal cansa.
Sim, o silêncio; ou não fosse quase de madrugada de um qualquer dia em que ninguém canta ou grita. Só o barulho dos comboios que seguem indiferentes; o barulho das páginas sorvidas de um só fôlego e o do bater do coração do menino que a olha, com as mãos atadas ao coração.
E ninguém sabe ou sonha, e ninguém espera nem comenta; porque ninguém ouviu jamais tamanho sussuro de magia e euforia - sempre contida -, como quem guarda um segredo como se guardasse o coração.
Se conseguisse, elogiar-lhe-ia os lábios cor de cereja e dir-lhe-ia como ficam bonitos enquanto lêem Eça para dentro. Depois, concerteza, coraria muito e fugiria, mas o coração bateria de forma muito diferente, assim como se esperasse que ela corresse atrás dele e lhe citasse Eça ao ouvido.
E não seria por falta de tempo, oportunidades ou suspiros do vento, que lhe oferecia - a cada brisa -, um leve traço de perfume da menina que lê com olhos redondos e castanhos. O comboio que esperavam não chegaria nunca, mas o bilhete rasgado que sobrou no chão, mesmo ao lado do lugar da menina que ainda hoje lê Eça, é uma palavra muda de despedida, mas é também uma carta de amor, daquelas que não caem ao chão; daquelas que levitam para sempre a alguns milímetros, como os pés do menino apaixonado, enquanto se despedia sem ela perceber.
Ela nunca a leu e o vento acabou por a fazer voar. Mas foi apenas mais um sonho desfeito, e outro menino que ficou sem par.
escrito por by joão martinho Email post
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