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quarta-feira, 22 de julho de 2009

ainda me lembro da primeira vez que gostei de ti #2

a nossa vida sempre foi um jogo de escondidas. ainda não nos conhecíamos e eu já sentia que me fugias, quando descobria o perfume que sonhava teu nos bancos em que me sentava, nas ruas em que me perdia, nos dias que não passavam. talvez nos procurássemos nos olhares intrigados que lançávamos um ao outro quando ainda não nos conhecíamos; talvez soubéssemos que as palavras que conhecíamos não eram ainda as dos cicios do despertar juntos.

ontem lembrei-me da primeira vez em que gostei de ti. foi um sonho, sempre sonhos, sonhei-te sempre e ainda acordo cheio de sonhos teus. dizes-me que sonho demais e que os meus sonhos, por muito bonitos que sejam, nunca se realizam por causa da minha inabilidade emocional. não sabes, porém, que eu durmo de olhos abertos para sonhar acordado. e os sonhos? os sonhos são todos os dias em que acordo contigo e realizam-se no primeiro sorriso preguiçoso que me dedicas.

mas aquele sonho, aquele sonho foi diferente. éramos ainda crianças e eu contava até vinte, encostado a uma parede, com um braço a tapar-me os olhos. contava sem saber quem procurava, mas logo que me virei, vi-te encolhida num armário aberto. talvez seja cliché, mas ouvia todas as outras crianças que se "livravam" e festejavam em câmara lenta, enquanto me aproximava rápido do armário. ou talvez tenha sonhado tempos diferentes e, enquanto as outras crianças corriam para a parede, eu aproximava-me intrigado do armário.

a medo, pus-te a mão no ombro e disse "encontrei-te", mas tu nem te mexeste nem falaste. puxei-te as mãos que se entrelaçavam nas pernas e voltei a dizer "encontrei-te". tu disseste que não e, bruscamente, voltaste à posição inicial. entretanto, as outras crianças começavam a queixar-se e a dizer que tinha de contar outra vez, que tinha perdido; perguntavam-me o que fazia ali e diziam para me despachar. eles não te viam e eu não insisti. quando o jogo acabou, procurei-te no armário, mas já lá não estavas; talvez tenhas acordado. lembro-me, porém, de te escrever um bilhete, não sei se o recebeste num outro sonho qualquer. dizia: "gosto de ti, menina invisível".


escrito por by joão martinho Email post



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