a endoscopia digestiva alta é de um grau de violência bastante alto. haverá coisas piores - e não serão poucas -, mas eu dispensava facilmente essa obrigação em troca de outros sacrifícios como comer lulas fritas ao pequeno-almoço durante uma semana, andar de pé nos autocarro, comboio e metro durante um mês ou, até, ver um concerto do andré sardet. este último, como é óbvio, com anestesia.
hoje deveria ter feito a que, estimo, teria sido a sexta endoscopia da minha vida de doente do estômago. não é fácil a vida de doente do estômago e torna-se especialmente aborrecida quando se deixa de ser doente do estômago. ninguém parece acreditar que já estamos bons e, o que nós esperamos que seja a definitiva última vez, é para as outras pessoas um natural diagnóstico de rotina.
obviamente, nunca dou ouvidos às outras pessoas e preparo o exame com a convicção de que será a última vez que o faço - tinha dezoito anos quando o pensei pela primeira vez; preparava-me para fazer a segunda, na altura.
depois de me preparar para quarta-feira, reparei que tinha decorado mal a data. parecia mentira: não era no dia um de abril, mas sim no dia dois. respirei de alívio e ingeri todo o açúcar que consegui para o celebrar.
voltei a preparar-me para hoje, a data real do exame, e, ao chegar ao hospital, informam-me que ainda não será hoje. os enfermeiros estão em greve e, por isso, o meu exame - o meu último exame - será reagendado.
no caminho de regresso lembrava-me de bordieu e tive vontade de dar-lhe razão: habermas, às vezes a violência simbólica dói mais que a violência física. senti isso no meu estômago em dores de jejum; lembrei-me que as dores de garganta são, pelo menos, uma boa desculpa para comer gelados.
hoje deveria ter feito a que, estimo, teria sido a sexta endoscopia da minha vida de doente do estômago. não é fácil a vida de doente do estômago e torna-se especialmente aborrecida quando se deixa de ser doente do estômago. ninguém parece acreditar que já estamos bons e, o que nós esperamos que seja a definitiva última vez, é para as outras pessoas um natural diagnóstico de rotina.
obviamente, nunca dou ouvidos às outras pessoas e preparo o exame com a convicção de que será a última vez que o faço - tinha dezoito anos quando o pensei pela primeira vez; preparava-me para fazer a segunda, na altura.
depois de me preparar para quarta-feira, reparei que tinha decorado mal a data. parecia mentira: não era no dia um de abril, mas sim no dia dois. respirei de alívio e ingeri todo o açúcar que consegui para o celebrar.
voltei a preparar-me para hoje, a data real do exame, e, ao chegar ao hospital, informam-me que ainda não será hoje. os enfermeiros estão em greve e, por isso, o meu exame - o meu último exame - será reagendado.
no caminho de regresso lembrava-me de bordieu e tive vontade de dar-lhe razão: habermas, às vezes a violência simbólica dói mais que a violência física. senti isso no meu estômago em dores de jejum; lembrei-me que as dores de garganta são, pelo menos, uma boa desculpa para comer gelados.
escrito por by joão martinho Email post
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